Rui Costa falou como presidente do Benfica na TVI24. Desde logo, a entrevista ao líder encarnado ficaria marcada por um outro homem: Luís Filipe Vieira.
E aí, o antigo camisola 10 da Luz tinha duas hipóteses: afastar-se de tudo o que era Vieira ou não ignorar o passado ao lado do antigo líder. Nunca tive Rui Costa como hipócrita.
É claro que uma grande parte do universo benfiquista se virou contra Vieira à luz dos últimos desenvolvimentos. Rui Costa, putativo candidato à presidência, pode perder apoiantes por ter optado pela segunda daquelas hipóteses. A hipocrisia era, nesse sentido, um risco bem maior, creio.
Os críticos de Vieira são, também eles, críticos de Rui Costa e depois desta noite terão ainda mais legitimidade para sê-lo. Rui Costa, o presidente, manteve-se ao lado de Vieira, o detido.
As primeiras opiniões que vi decorrem na teoria da continuidade. E ela parece-me ser certa. Pelo menos, no imediato. Rui Costa só divergiu em duas notas: John Textor e Pinto da Costa. Quanto ao segundo, fê-lo de forma mais evidente. Não gostou.
Estratégico ou não, disse-o. Quanto ao primeiro, foi mais prudente. Disse desconhecer Textor, o processo - afinal, o mesmo processo que é parte do que prende Vieira em casa -, e, numa nota de prudência, afirmou que quem tem de receber o investidor norte-americano é o próximo presidente.
A prudência, sabemos todos, não era uma virtude de Vieira. Nem um defeito. Publicamente, pelo menos, ela não existia. E foi aí que Rui Costa marcou a maior diferença.
A imagem contava muito nesta entrevista. Era preciso ver algo diferente e isso Rui Costa conseguiu. Pode ser apenas na forma, no fato que veste, no modo como comunica, mas na perceção Rui Costa é o oposto de LFV.
O novíssimo presidente do Benfica tentou defender-se da questão Footlab ao ataque e falou de ter um clube transparente - dando a impressão, aqui, de que ou não o era ou que algo estava mal. De resto, não deu nenhuma notícia, não anunciou nenhuma mudança. Rui Costa foi à TVI dizer que não quer ouvir falar em eleições e que quer manter o foco na entrada na Liga do Campeões. Disse pouco e mostrou-se muito.
Mas marcou ali outro ponto divergente com o que era o discurso habitual de Vieira. Rui Costa falou da importância desportiva de chegar à Champions sobrepondo-a à financeira.
Não sei se foi percetível o suficiente, mas o antigo 10 disse mais ou menos isto. O Benfica tem de chegar à fase de grupos, porque não conseguirá resolver de outro modo essa ausência em campo. A outra, a ausência dos euros da Champions, arranjar-se-á forma, se necessário. Vendendo jogadores, provavelmente.
É ligeira, mas é uma diferença para o discurso recorrente de Vieira.
A entrevista de Rui Costa fez-lhe mais bem que mal, no meu entender. Na medida em que Rui Costa, o presidente, é um homem bem diferente de Vieira, o detido.