Em tempos escrevi aqui, depois de um agitado Estoril-FC Porto, que o penálti convertido por Tozé na Amoreira, à equipa que detinha o seu passe, fazia um imenso bem ao futebol português. E, mais do que isso, à forma inquinada como nos habituámos a vê-lo e, demasiadas vezes, a comentá-lo com a má-fé como ponto de partida obrigatório.

Quando o fiz não tinha ilusões de que esse incidente isolado passasse a ditar a regra de conduta na nossa Liga. E, se as tivesse, tê-las-ia perdido nesse mesmo dia, face às críticas e recriminações de que o jogador foi alvo, por elementos do staff portista. Mas fi-lo, ainda assim, precisamente por achar que essas exceções devem ser valorizadas, mais ainda quando vão contra a corrente dos tempos.

Passaram quatro meses, a luta pelo título foi subindo de temperatura e, como era de prever, a corrente dos tempos foi empurrando com mais força. Como se viu em dezembro, com as ausências de Deyverson e Miguel Rosa pelo Belenenses, na Luz. E, depois, em várias outras jornadas, com as baixas cirúrgicas, por lesões ou cartões, que foram afastando jogadores-chave do caminho de candidatos ao título, indistintamente vermelhos ou azuis.

Hoje, o sucedido com Tozé parece-nos totalmente fora desta realidade e deslocado do contexto. E acredito, com alguma tristeza, que a maior parte dos adeptos de Benfica e FC Porto considerem ser parte dos deveres dos seus dirigentes impedir que uma situação dessas se repita. Por isso, ninguém terá ficado surpreendido com a confirmação de algo que já vinha sendo sugerido ao longo da semana: neste domingo, Kayembe, emprestado pelo FC Porto, não jogou pelo Arouca, por força de um «condicionamento» que o seu treinador, Pedro Emanuel, explicou por meias palavras.

À exceção da contabilidade de casos semelhantes, num sentido e noutro, - que é, como bem sabemos, um novelo sem fim – acredito que os adeptos de Benfica e FC Porto, e também os dos clubes mais pequenos, que têm de sujeitar-se a estas imposições, se unam, nesta altura em torno da evidência de que «isto é mesmo assim».

Talvez seja, digo eu. E enquanto continuarmos a obedecer à velha lógica, «manda quem pode e obedece quem deve», não enfrentando o gritante problema da distribuição de meios e receitas, continuaremos a ter a Liga que merecemos. E o país, já agora.