A estreia de Luís Boa Morte com a camisola das quinas foi dos poucos aspectos positivos da goleada sofrida por Portugal diante da França. Na quarta-feira, no Stade de France, por entre um descalabro inédito nos últimos 12 anos, sobressaiu a exibição do estreante com a camisola das quinas. Em 50 minutos, o tempo em que esteve em campo, o jogador do Fulham mostrou o suficiente para provar que tem fibra de selecção: foi de longe o português que criou mais lances de perigo junto da baliza de Barthez e deixou argumentos suficientes para esperar nova chamada, em circunstâncias mais favoráveis. 

Em conversa com Maisfutebol, o jogador mostrou-se, apesar de tudo, satisfeito com a experiência. E esse sentimento parece ser extensivo a António Oliveira, que no final do jogo o felicitou: «O mister deu-me os parabéns, afirmando que eu tinha feito um bom jogo. E estou consciente de que mostrei alguma coisa. Pelo menos batalhei e dei tudo o que tinha», sustenta o jogador. 

As circunstâncias não eram as melhores: entrar em campo com 0-3 no marcador é suficiente para abalar o mais confiante. Ainda assim, o avançado do Fulham não se perturbou: «Claro que naquela altura já era difícil evitar a derrota. Mas mesmo assim acreditei que tínhamos futebol para mostrar. Independentemente do resultado não podíamos baixar a cabeça, tínhamos coisas a mostrar naquele jogo» afirma. 

A segunda parte confirmou essa impressão, com a equipa portuguesa a equilibrar as operações e a passar perto do golo em diversas ocasiões. «Dominámos o jogo desde os últimos minutos da primeira parte. E na segunda merecíamos ter feito dois golos. Ninguém pode dizer que não tentámos, porque tentámos tudo», garante. A começar por si próprio, que passou muito perto do golo aos 64 minutos, com um remate que saiu a rasar o poste direito de Barthez «Foi um livre do Figo, tive espaço para tentar o remate. Virei-me e chutei, mas tive azar porque a bola ainda bateu nas costas do Pauleta, desviando-se um pouco. Tinha sido bonito marcar na estreia, mas paciência, fica para a próxima». 

«A França é sem dúvida a melhor do Mundo» 

Que os jogadores tentaram tudo parece também ter sido também a opinião de António Oliveira que, segundo Boa Morte, jamais formulou críticas directas: «Ao intervalo, o mister tentou motivar-nos ao máximo. Pelas suas palavras, sabia que estávamos a fazer o melhor possível. O problema é que estávamos a jogar perante uma selecção muito experiente, que actuou ao seu melhor nível». 

Daí para os elogios à França vai um pulinho: «É sem dúvida a melhor selecção do Mundo, em todos os aspectos. Mas o resultado de quarta-feira também tem a ver com as circunstâncias do jogo, não é um desfecho normal», ressalva. Uma equipa que, curiosamente, inclui muitos ex-companheiros de Boa Morte no Arsenal: «Antes do jogo estive a conversar um pouco com Petit, Vieira, Anelka e Henry. Eles quiseram saber de mim, e eu disse-lhes que estava muito satisfeito por esta chamada. Foi bom matar saudades...», refere.  

A vontade de «regressar à Selecção em circunstâncias mais favoráveis» não esmoreceu por causa desta estreia amarga. «Foi uma boa experiência, os jogadores mais internacionais nunca deixaram de apoiar-me, bem como ao Jorge Andrade. Gostei muito do ambiente e espero estar de volta em breve». 

«Futuro? Uma palavra mal dita pode estragar tudo...» 

Preparando-se para receber o título de campeão da First Division no próximo sábado, antes de um festivo Fulham-Wimbledon que vai marcar a consagração e a entrega da Taça aos homens de Tigana, Boa Morte refugia-se no silêncio quando questionado sobre o futuro. Apesar do interesse de vários clubes, entre os quais o Benfica, o jogador continua ligado ao Southampton, e o Fulham dispõe do direito de opção sobre o seu passe. Uma decisão que o clube comandado por Al-Fayed terá de oficializar nos próximos dias.  

Boa Morte não entra em pormenores: «Estamos numa fase crucial em todo esse processo. Uma palavra mal dita pode estragar muita coisa. Uma coisa é certa, tudo deve ficar resolvido nos próximos dez dias», afirma o jogador, que recentemente foi alvo de grandes elogios por parte do seu ex-companheiro Dennis Bergkamp, no site do craque holandês. «Ele disse isso? Confesso que não sabia, mas é agradável de ouvir. Convivi com ele durante dois anos e mantivemos um bom relacionamento. Além do mais, essas palavras têm mais peso quando são ditas por uma referência do futebol mundial».