A família, a proposta financeira e um projeto desportivo que pisca o olho ao Mundial de Clubes. Em entrevista ao Maisfutebol, Vítor Pereira explica por que razão optou pelo Al Ahli e fala sobre a realidade que vai encontrar na cidade de Jeddah. A «intensa pressão» de ser treinador do F.C. Porto levou-o a optar pela saída de Portugal.

Porquê o Al Ahli, porquê a Arábia Saudita após dois títulos consecutivos no F.C. Porto?

«Discuti o meu futuro com vários clubes, fui até a uma fase adiantada de conversações com alguns, mas decidi-me pelo Al Ahli depois de ter feito um balanço familiar, financeiro e desportivo. Foram estas três vertentes que coloquei na balança. A decisão pendeu para o Al Ahli».

Sentiu a necessidade de abandonar Portugal?

«Depois de três anos de intensa pressão no F.C. Porto e de algum desgaste familiar e pessoal, achei que era o momento de partir. Decidi experimentar outro clube e outro projeto. De todos os que me surgiram, senti que encontraria neste [Al Ahli] a estabilidade familiar desejada. Até para fugir um pouco do ambiente dos últimos anos, com evidentes repercussões para a minha família».

Levar a sua família consigo é fundamental?

«É, é mesmo fundamental. Precisamos de estar juntos. Somos muito unidos e uma experiência para os meus filhos no estrangeiro será importante. A partir daqui a minha carreira será feita fora do país e é bom que eles se habituem, melhorem o inglês e estudem numa escola internacional».

Viver num país islâmico, radical em muitos dos seus costumes, não o assusta?

«Informei-me com os portugueses que estavam já na equipa de sub-23 e garantiram-me que vamos ter uma vida tranquila. É um país seguro. Temos de respeitar as diferenças culturais e religiosas, nada mais. Eu também faço uma vida calma, entre casa e trabalho. Não acredito que haja problemas por aí».

Teve outros convites do Médio Oriente?

«Sim, mas o projeto do Al Ahli era o que desportivamente mais me agradava. É um projeto diferente dos que encontraria no Dubai ou no Qatar. Quem vai para esses países são jogadores em final de carreira e não há limites de estrangeiros. Isso descaracteriza os campeonatos. Além disso há pouca gente nas bancadas a ver os jogos. Eu queria um projeto desportivo aliciante, apesar de ser noutro continente».

Certamente informou-se bem sobre o Al Ahli. O que nos pode dizer sobre o clube?

«O Al Ahli tem uma excelente academia, possui vários jogadores na equipa olímpica de sub-23 e tem uma média de quase 40 mil espetadores por jogo. É um clube sedento por títulos e que não consegue ser campeão nacional há 29 anos. Isso é um desafio-extra para nós. Vamos disputar já os quartos-de-final da Liga dos Campeões asiáticos e se vencermos a prova estaremos no final do ano no Mundial de Clubes. Ou seja, apesar de me obrigar a ir para outro continente, o projeto é entusiasmante».

O adversário nos quartos-de-final é acessível?

«É o FC Seul, da Coreia do Sul. Já se sabe que as equipas deste país são muito dinâmicas. Nós vamos estar no início da época, apenas com cinco semanas de trabalho, e eles já estarão numa fase mais adiantada».

A proposta era também irresistível financeiramente?

«É uma questão importante. Vale mesmo a pena ter aceite o convite, sem dúvida. Juntando a isso tudo o que referi, tenho a certeza que escolhi bem. Vou ganhar noutro continente e voltarei à Europa quando tiver de voltar».