Falemos dos duelos com o Benfica. O Porto era de facto superior ou houve uma grande dose de demérito no oponente?
«O Benfica era uma equipa poderosa contra a maioria das equipas. Tinha várias opções para o ataque, acelerava muito bem o jogo - porque tinha jogadores para isso - e fazia bem as transições ofensivas. Mas contra nós não tinham hipóteses. O nosso modelo de posse, pressionante, não permitia que o Benfica fosse uma equipa de iniciativa, mas sim reativa. A nossa forma de jogar dava-nos o controlo dos jogos contra o Benfica».
O minuto 92 do último Clássico, com o golo do Kelvin, foi o seu momento mais intenso e emocional no F.C. Porto?
«Foi. Sim, jugo que sim. É um momento lindo, indescritível. Para mim e para os adeptos. Estivemos aquelas semanas todas à espera de ter novamente nas nossas mãos o controlo da classificação. Mesmo assim alguns dizem que o Benfica é que teve demérito e perdeu os campeonatos. Isso é uma desonestidade. O Porto provou que não falha nos instantes decisivos do campeonato, tem caráter e modelo de campeão. Foi fiel a si próprio e acreditou no seu jogo. Só por isso reverteu duas situações que pareciam impossíveis de reverter. Fê-lo, das duas vezes, com qualidade e não com sorte».
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«Recordo, se me permite, que na época anterior fomos à Luz e virámos o campeonato ao contrário querendo ganhar o jogo, arriscando. Este ano, no Dragão, voltámos a fazer a ultrapassagem no confronto direto com o Benfica e arriscando muito. Não jogando especialmente bem, mas arriscando desde o início. Quem arrisca e é fiel às suas ideias é recompensado. Quem ganhou o campeonato mereceu ganhá-lo. Nós merecemos ser campeões. Sempre».
Ficou surpreendido com o comportamento expetante do Benfica no último jogo no Dragão?
«Não, nada. Contra nós foi quase sempre assim, apenas reativo e à espera de uma transição rápida ou uma bola parada. O golo deles [Lima] nasceu de um lançamento lateral e nisso eram perigosos. A forma como jogámos na Luz, em Braga e em Alvalade não teve nada a ver com isso. Mesmo em Alvalade, onde não fizemos um bom jogo, tivemos mais bola e quisemos sempre ganhar, frente a um Sporting de linhas muito recuadas e defensivo. As equipas reconheciam a nossa qualidade e por isso fechavam-se atrás. Nós, mesmo sem espaços, conseguíamos circular e desgastar o adversário. Sempre a defender alto. O F.C. Porto era assim e creio que isso é um atestado de qualidade».
Vai ter saudades dos duelos verbais com o Jorge Jesus?
«Vou ter saudades dos duelos com ele no campo. Somos duas pessoas diferentes, mas ambos extremamente competitivos. Reconheço-lhe competência e muito daquilo que dizemos é condicionado pela defesa da nossa cor clubística, pela vontade de vencer e competir. Não tenho saudades dos duelos verbais nas conferências de imprensa, sinceramente, mas dos jogos contra ele vou ter saudades. Quanto mais forte é o adversário, mais evoluímos e melhoramos. O Jesus é um adversário forte. Deu-me imenso prazer defrontá-lo. Foram duelos interessantes (risos).
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